sexta-feira, 27 de março de 2015

Origens

Decidimos que era hora de regressar às nossas origens. Revisitar o lugar que nos viu crescer. O lugar que para nós (ainda) é sinónimo de paz e liberdade, de família e de amor. É certo que os tempos já não são mais os mesmos. Já não temos os nossos bisavós connosco, nem ninguém aqui em casa para nos abrir a porta, nos receber com mesa cheia e lareira acesa. Mas tínhamos a chave. E por isso viemos as 5 - a medo, confesso! Viagem calma, chuvinha chata e boa música. Chegámos à Quinta já de madrugada, com 4º e um ventinho gelado de pôr o dentinho a tremer. Tudo estava na mesma, quero dizer, no sítio. A laranjeira no pátio, o velho portão de ferro com o cadeado verde, o poço lá ao fundo rodeado de silvas, o pequeno riacho e a nossa ponte de madeira. O pomar. E a casa - fria, calada, às escuras. Sim, às escuras mesmo, sem electricidade - não nos lembrámos de tal pormenor! E foi à luz das velas que nos instalámos, com a lágrima no canto do olho e a saudade a bater forte no peito. E é claro que aqui a pessoa não tardou a saltar para a cama do lado, como fazia quando era criança. Dormimos pouco. Mas desta vez não acordámos com o cantar do galo, como antigamente, porque animais é coisa que por aqui também já não há. Acordámos com o sol e com uma curiosidade imensa de ver tudo com olhos de ver: cada canto da casa, cada pedaço da quinta, cada percurso da floresta. A primeira coisa que fiz quando me levantei foi descer as escadas a correr (só para ouvir o relinchar da madeira) e ir até à sala de jantar contemplar o quadro do Menino da Lágrima! Lembro-me de ter uns 4 anos e ficar perplexa a olhar o quadro e a perguntar à minha bisavó "Quem é este aqui que quer chorar?" - e hoje quem quis chorar fui eu! Mas lá me contive. Saímos entretanto para correr e acabámos por nos perder por ali, entre o pomar e os campos de cultivo que agora estão cobertos de erva verdinha - a rir de episódios passados, a (re)contar as histórias que outrora ouvimos debaixo da laranjeira, enfim - a sermos felizes no presente com a boa memória do passado! Infelizmente não tivemos direito a um cozido à portuguesa, mas preparámos um belo brunch caseirinho! À tarde fomos (re)visitar a vila e as pessoas, e acabámos por ficar a aproveitar o sol na esplanada (a novidade, para nós) do café do costume! Voltámos para casa já ao cair da noite e surpresa das surpresas, encontrámos a porta aberta, a mesa posta e a lareira acesa: os avós vieram, os tios também, e a restante trupe de primos igualmente! Casa cheia, novamente! E amanhã estamos de partida. 

Desta vez digo, de coração, que será um "ir de voltar"! Porque, apesar de tudo, está a saber bem...


2 comentários:

  1. Que lindo texto, emocionei-me, Carol! Que vontade de conhecer esse sítio maravilhoso. Um beijinho! :)

    ResponderEliminar